A maternidade muda a gente. Adotamos novos e melhores hábitos, passamos a ter preocupações que antes sequer passariam pela nossa cabeça. Comigo, claro, não foi diferente.
E o nível de mudanças foi se aprofundando à medida que as crianças cresceram e passaram a fazer perguntas. Antes de responder, por diversas vezes, recebi o alerta: ESTÁ NA HORA DE VOCÊ REVER OS SEUS CONCEITOS.
E foi assim, sendo mãe, que percebi algo terrível sobre mim: sou homofóbica.
A falta de traquejo para responder questionamentos como: “homem pode namorar outro homem?”, escancarou preconceitos latentes dentro de mim.
Como alguém que cresceu em um mundo que naturaliza o preconceito, isso era esperado. Quando mais jovem, programas de TV ridicularizavam homossexuais e nós achávamos “normal”. O gay era sempre a figura espalhafatosa, que única e exclusivamente tinha a função de nos fazer rir ou nos deixar mais belas.
No entanto, assim como em Geni e o Zepelim, música de Chico Buarque, se gays não estivessem nos servindo como determinamos, deveriam ser recolhidos às sombras. Esta postura não era descarada. Era sempre velada, com camadas e mais camadas de justificativas sólidas, dentre elas: proteção da infância, da família, dos bons costumes.
E eu, que me considerava uma pessoa super pra frente, empática e justa, me descobri homofóbica. Uma amiga muito querida, que sempre esteve léguas à minha frente, me chamou atenção para as falas que eu mesma tinha. De início, fiquei na defensiva: não sou preconceituosa, é só brincadeira. E assim, após muitas conversas, ela me disse algo que foi impossível ignorar: “essas pessoas morrem apenas por existirem, qual é a
graça nisso?”.

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