Por Carol Barreto

A partir de 2022, os estados brasileiros começaram oficialmente a implantação do Novo Ensino Médio, que já vinha sendo feito há alguns anos em algumas escolas e redes de ensino do país. Mas você sabe quais são as mudanças? Como a implantação do novo modelo vai impactar a vida escolar dos nossos filhos?

Resumimos aqui os 5 pontos principais para que se possa entender do que se trata essa proposta.

1. Como surgiu o projeto e qual o prazo para implementá-lo?

O projeto do Novo Ensino Médio surgiu em 2017 com o claro objetivo de tornar essa etapa da formação mais atraente para os jovens da Geração Z, que têm um perfil bem diferente das gerações anteriores, e, assim, reduzir a evasão, fortalecendo o protagonismo juvenil na medida em que possibilita aos estudantes fazer escolhas e aprofundar seus conhecimentos de acordo com suas aptidões.  De acordo com a proposta do projeto, as mudanças devem começar a ser adotadas no início do ano letivo de 2022, mas, como o processo acontecerá de forma gradual, ele pode se estender até 2024. Cada escola/rede de ensino poderá determinar o passo a passo para a implementação, então não deixe de buscar informações sobre como será feito na escola do seu filho.

2. A carga horária será alterada?

Um dos aspectos que gera mais dúvidas é a carga horária do Novo Ensino Médio. A carga atual desse ciclo deverá ser ampliada de 2.400 horas (800 horas anuais) para, no mínimo, 3.000 horas (1.000 horas anuais). Essa nova carga deve ser distribuída entre os dois tipos de formação oferecidos:

Formação geral — destinada a todos os alunos e deve ter 1.800 horas no máximo;

Formação específica — composta pelos itinerários formativos e precisa ter, pelo menos, 1.200 horas.

O aumento da carga horária será feito gradualmente e cada escola tem autonomia para incluir em seu quadro de horários as horas a mais ao longo do processo de implantação até que se alcance a carga mínima exigida pela lei. Importante conhecer os prazos que a escola estabeleceu para esse aumento gradual para auxiliar na organização dos horários dos filhos. 

3. O que é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?

É um conjunto de orientações que foi o norteador da (re)elaboração dos currículos de referência das escolas das redes públicas e privadas de ensino de todo o Brasil. A Base traz os conhecimentos essenciais, as competências, habilidades e as aprendizagens pretendidas para crianças e jovens em cada etapa da educação básica. A função da BNCC é buscar promover a elevação da qualidade do ensino no país por meio de uma referência comum obrigatória para todas as escolas de educação básica. A carga horária da BNCC deve ter até 1800, e será adotada na Formação Geral. A carga horária restante deverá ser destinada aos itinerários formativos, espaço de escolha dos estudantes.

4. Na Formação Geral, como estão divididas as disciplinas?

A BNCC propõe uma nova divisão curricular por áreas do conhecimento – no lugar dos componentes tradicionais (disciplinas). Biologia, física e química se unem para formar Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Geografia, história, filosofia e sociologia formam as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Artes e Educação Física passam a ser Linguagens e suas Tecnologias. E por último temos a Matemática e suas Tecnologias

Organizar as aprendizagens essenciais por áreas do conhecimento tem por finalidade integrar dois ou mais componentes do currículo. Essa organização não exclui as disciplinas, com suas especificidades e saberes próprios historicamente construídos, mas implica o fortalecimento das relações entre elas e a sua contextualização para apreensão e intervenção na realidade, requerendo trabalho conjugado e cooperativo dos professores no planejamento e na execução dos planos de ensino. Ou seja, cada área do conhecimento tem suas competências e habilidades, mas elas vão ser trabalhadas de acordo com cada disciplina, uma vez que cada docente contribui com um conhecimento e uma abordagem.

A sociedade é interdisciplinar, e a proposta dessa nova abordagem é que as complexidades da realidade precisam ser refletidas no processo de ensino e aprendizagem dessa etapa, com conteúdos que façam sentido para os estudantes. O entendimento é que ao se fragmentar a realidade em disciplinas, dificultamos a compreensão e a capacidade dos alunos de se conectarem com seu contexto. E é fundamental que eles consigam relacionar esses temas com o que vivem no cotidiano.

Na BNCC, as áreas de conhecimento agrupam componentes curriculares que muitas vezes se relacionam. Disciplinas como Biologia e Química, por exemplo, têm diversos pontos em comum, que são tradicionalmente explorados, mas também há possibilidades de integração com outros saberes, como História e Geografia. Uma atividade pedagógica que trabalhe os meios de separação de mistura e destilação, por exemplo, pode explorar desde os processos químicos de um alambique e as formas de plantio da cana-de-açúcar até o impacto dessa indústria na urbanização do Nordeste brasileiro. Dessa maneira promove-se, de fato, um conhecimento que faça sentido para o aluno.

Importante destacar que cabe a cada docente perceber a interface da sua área com as demais, e o desafio da gestão escolar é conduzir a equipe docente no planejamento das estratégias interdisciplinares. Ou seja: os pais devem entender essas mudanças para que cobrem da escola informações e posicionamentos sobre o processo de formação e atualização do corpo docente.

5. O que são os itinerários formativos?

Por ser um conceito novo nas escolas brasileiras, e flexível, o entendimento dessa parte do currículo é um questionamento das maiorias dos pais. Na rede estadual de Minas Gerais, as escolas sairão de 25 aulas semanais para 30, sendo 12 delas relativas aos itinerários formativos. Para cumprir as 1 mil horas, 83% dos estabelecimentos de ensino estaduais optaram por ter um 6º horário e 17% escolheram o contraturno uma vez por semana.

Mas do que se trata exatamente? Os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher no ensino médio, para aprofundar e ampliar seus conhecimentos em uma das Área do Conhecimento, em um percurso com começo, meio e fim. O estudante também pode escolher Itinerários voltados à sua Formação Técnica e Profissional ou cursar Itinerários Integrados, que combinam diferentes opções, como duas ou mais Áreas do Conhecimento ou delas com a Formação Técnica e Profissional. As redes de ensino terão autonomia para definir quais itinerários formativos irão ofertar, então as escolhas dos alunos deverão ser pautadas, também, pela oferta da escola na qual ele cursa o Ensino Médio. 

Os itinerários deverão ser compostos por, pelo menos, três componentes que são: as trilhas de aprofundamentos nas Áreas do Conhecimento ou na Formação Técnica e Profissional, as Eletivas e o Projeto de Vida. 

Aprofundamentos: visam expandir os aprendizados da Formação Geral, aprimorando os potenciais e vocações dos estudantes, para que eles construam sua trajetória com maior tempo dedicado aos conteúdos escolhidos, e que tenham relação direta com seu projeto de vida, personalizando, assim, seu histórico escolar e ganhando um diferencial na sua formação. Por isso, a recomendação é de que os Aprofundamentos tenham duração de, pelo menos, quatro semestres e que tenham carga horária total de, no mínimo, 500 horas.

Eletivas: são componentes de livre escolha dos estudantes que possibilitam experimentar diferentes temas, vivências e aprendizagens, de maneira a diversificar e enriquecer o Itinerário Formativo. O estudante pode cursar Eletivas associadas à mesma Área do Conhecimento ou Formação Técnica e Profissional em que estiver se aprofundando ou optar por diversificar a sua formação, escolhendo Eletivas de temas de seu interesse associados a outras Áreas do Conhecimento.

Projeto de Vida: nesse componente, os estudantes serão preparados para traçarem seu percurso de aprendizagem, com o objetivo primordial de desenvolver a capacidade de fazer escolhas conscientes, planejar o futuro e agir no presente com autonomia e responsabilidade. A recomendação é de que o projeto de vida seja um componente curricular com carga horária de, pelo menos, dois tempos de aula por semana, a ser desenvolvido ao longo dos três anos de Ensino Médio, sendo que o foco do 1º ano seja no autoconhecimento de maneira que o estudante consiga fazer escolhas mais assertivas em relação às Eletivas e, especialmente, aos Aprofundamentos.

Outro ponto importante sobre o Itinerário Formativo é que seu conjunto de unidades curriculares deve ser organizado em torno de um ou mais dos seguintes eixos estruturantes:

1. Investigação científica; 2. Processos criativos; 3. Mediação e intervenção sociocultural; 4. Empreendedorismo.

A BNCC é um documento ENORME e a implantação do Novo Ensino Médio ainda é um grande desafio para as escolas, professores, governos, alunos e, consequentemente, para nós, pais. O importante é sempre buscar informações e manter uma relação de proximidade com a escola dos nossos filhos para que esse processo seja mais claro e proveitoso para todos. Não deixe de questionar, debater e buscar o entendimento da escola do seu filho sobre esse processo. 

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário