Algumas informações simples que podem ser importantes para que as mommys não se esqueçam de que amor próprio e autoestima, muitas vezes, são construídos em escolhas sutis do dia a dia
Por Carol Barreto
Na última quarta-feira, dia 02 de março de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o documento “Saúde mental e COVID-19: evidências iniciais do impacto da pandemia”, que mostra que a incidência de ansiedade e depressão teve um aumento global de 25% nos últimos anos. O documento destaca, ainda, que a pandemia afetou principalmente a saúde mental de mulheres e jovens e que eles correm um risco desproporcional de desenvolvimento de comportamentos considerados nocivos.
E nunca se falou tanto em saúde mental. Antes mesmo da pandemia, os números já eram alarmantes. A Covid-19 fez não só com que esses transtornos se agravassem, mas também trouxe novas questões. Como a necessidade do autocuidado. De acordo com a OMS, mais de 750 milhões de pessoas no mundo apresentam sintomas de transtornos mentais e parte desse expressivo número deve-se, justamente, à privação do autocuidado.
Por isso, achamos importante falar sobre o autocuidado: você sabe o que é? Qual a sua importância? Quais tipos existem? Qual a sua relação com a autoestima? Como é praticado? E como começar?
O que é autocuidado?
O termo autocuidado é a junção de “auto”, que exprime a noção de si, e “cuidado”, que deriva do verbo cuidar, do latim cogitare, que significa ‘pensar’, ‘meditar’, ‘aplicar’ a atenção, ‘refletir’, ‘ter-se’. Portanto o autocuidado passa pelo autoconhecimento. É pensar em si mesmo, meditar sobre suas peculiaridades, voltar sua atenção para suas particularidades. A mommy Daniela Bittar, psicóloga e cofundadora do Sentir Mulher, destaca que “auto cuidado é mergulhar em quem somos, tanto na nossa luz quanto na nossa sombra”.
Como então praticar o autocuidado dentro do autoconhecimento? Para Daniela, o primeiro passo é conseguir se olhar por inteiro: “é entender o que gosto, como me sinto em relação às coisas, quais pessoas me fazem bem, onde me sinto confortável, o que eu pratico que é tóxico para o meu ser, o que eu tenho feito que me faz mal, o que eu tenho gerido nos meus dias que me aprisiona. Ou seja, é preciso parar, sair do lugar do externo e focar dentro de si, olhar para dentro”. Somente em contato com esse mergulho em si mesmo, torna-se possível colocar em prática hábitos que estimulem o autocuidado.
Você já ouviu que o autocuidado e a autoestima andam sempre juntos?
Assim como o autocuidado, a autoestima também é atravessada pelo acolhimento de quem somos. A autoestima é essencial para que confiemos nas nossas ações e decisões, pois é a partir dela que arquitetamos a avaliação que fazemos de nós mesmos e, para construir a autoestima, é imprescindível praticar o autoconhecimento. Quando nos conhecemos profundamente, somos capazes de entender por que agimos e reagimos de uma determinada maneira; passamos a compreender no que devemos melhorar e quais são as nossas potências. Assim fica menos penoso encarar os desafios do dia-dia. E esse exercício de erguer sua autoestima, portanto, também é uma forma de autocuidado, pois lhe traz confiança e te permite expandir e superar crenças limitantes como “não sou capaz” ou “não sou merecedor”.
Segundo Daniela Bittar, a autoestima “vem de um lugar de paz interior e não da estética. Isso é uma ilusão. Porque traz uma felicidade momentânea, efêmera e fugaz. O que realmente trabalha a autoestima em um campo sólido, é saber quem eu sou. Esse é o meu corpo, essa é minha pele, esse é meu cabelo, essa é minha forma física, essa sou eu por inteiro. E a partir daí se reconhecer também em pensamento: eu sou o que eu sinto. Eu preciso me sentir por inteiro para descentrar meu pensamento do autojulgamento, da autocrítica, dos medos”.
Porque é tão importante – e tão difícil – praticar o autocuidado
Quando percebemos que o autocuidado é capaz de aprimorar a nossa autoestima e nossa capacidade de tomada de decisões, compreendemos também que se trata de uma maneira de exercer o amor próprio, porque – em contraposição ao senso comum – cuidar de si não é egoísmo, e sim uma forma de se fortalecer e ampliar suas potencialidades.
É inegável, portanto, que o autocuidado proporciona maior qualidade de vida, pois fortalece a autoestima, a autoconfiança e a capacidade de agir e tomar decisões frente aos desafios da vida cotidiana. Importante ressaltar que maior qualidade de vida reduz o sofrimento psíquico e o adoecimento físico, aumentando a sensação de bem-estar.
Porque, então, temos tanta dificuldade em nos colocar em primeiro plano? Muitas vezes porque a pressão social, emocional, as demandas excessivas da rotina, nos levem a uma sensação permanente de insuficiência, de incapacidade. O autojulgamento e a autocrítica nos fazem buscar uma perfeição que não existe. É preciso aceitar as fraquezas e as potencialidades como elementos que edificam a existência.
“É importante demais a gente parar de ficar nesse automatismo do negativismo, do pessimismo. É necessário acolher as nossas sombras. A dualidade é real, ela existe. Eu tenho amor, mas tenho dor; eu sinto alegria, mas também sinto tristeza. Eu tenho muita compaixão, mas sinto raiva. Eu tenho disponibilidade, mas às vezes me falta paciência. Eu tenho uma vontade grande de ajudar o mundo, mas me dá desesperança muitas vezes. Nós somos essa dualidade. A gente transita entre os extremos da polaridade tantas vezes na vida e tudo bem. Isso faz parte de quem somos”, pontua a psicóloga Daniela Bittar.
Por onde começar?
Ao contrário do que as concepções superficiais e reducionistas nos levam a acreditar, autocuidado não está diretamente vinculado ou limitado ao hábito de cuidados estéticos, e para ser posto em prática exige que antes se faça algumas perguntas. O que você realmente precisa para ficar bem no dia-dia? O que lhe falta? O que te faz mal?
As respostas envolverão o exercício do autoconhecimento e uma transformação de mentalidade, antes da modificação no comportamento. A primeira dica é abrir um tempo para a reflexão. Pensar na sua rotina e o quanto ela abarca suas demandas, seus objetivos e desejos. Colocar na balança: o que é realmente imprescindível e como você tem utilizado o seu tempo. Há momentos no seu dia para você desempenhar, de alguma forma, o autocuidado? Você está disposta a abrir mão de algo?
Mudar hábitos não é uma tarefa simples. Demanda força de vontade e determinação. Por isso, respeite seus limites e entenda que você não vai conseguir (e nem precisa!) colocar tudo que deseja em prática da noite para o dia. Uma segunda dica é escrever uma lista com tudo que pretende adotar de novos comportamentos em uma ordem de prioridade e seguir um passo de cada vez. “Acolha-se. Se abrace. Respeite o seu tempo, seus limites, os seus medos. Respeite as suas dificuldades. Temos apenas o hoje pra viver. E se temos apenas o hoje, pegue o seu hoje e preste muita atenção no que você sente. Vai trabalhando como se você fosse uma artesã de si mesma”, aconselha a mommy Daniela.
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