Mesmo após começar a estudar sobre racismo, percebi o quanto é normalizado e o quanto nós utilizamos expressões racistas no nosso dia a dia, muitas vezes sem nem notar, afinal, crescemos ouvindo tais expressões.

Então vamos juntas aprender e fazer a diferença?

Quando expressões como “mulata” ou “a coisa tá preta” se tornam naturais, é indício do quanto a opressão e o preconceito estão incorporados à visão de mundo das pessoas. Entre sutilezas, brincadeiras e aparentes elogios, a violência simbólica se amplia quando expressões como estas são repetidas:

  • “Cor de pele”:
    Aprende-se desde criança que “cor de pele” é aquele lápis meio rosado, meio bege. Mas é evidente que o tom não representa a pele de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil. Então vamos ensinar às nossas crianças todos os tons de cor de pele.
  • “Doméstica”:
    Negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos” para serem “domesticados”. (Confesso que esse me deixou assustada, nunca imaginei. Mas se pararmos pra pensar essa palavra é realmente muito dura).
  • “Meia tigela”:
    Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
  • “Mulata”:
    Na língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade (a mulher negra é associada a sensualidade).
  • “Moreno(a)”:
    Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo (esse acredito que o mais comum, mesmo sendo negra sempre ouvi tais “elogios”. Lembro-me de uma vez ,que um crush me chamava de pretinha, e todos achavam um absurdo ele se referir a mim dessa forma).
  • “Negro(a) de traços finos”:
    A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum. (“Ahhh, mas você não é tão negra assim”).
  • “Cabelo ruim”:
    Fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros.
    Ah… Se vocês soubessem como é difícil se ver bonita. O quanto era sofrido alisar o cabelo, viver com o couro cabeludo queimado. O cheiro forte das químicas. O cabelo constantemente molhado e trazendo com isso tantos outros problemas. Depois de 26 anos, com meus cabelos soltando literalmente nas mãos, decidi me alforriar desse sofrimento!
  • “Não sou tuas negas”:
    A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo (escravas negras eram, literalmente, propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo).
  • “Denegrir”:
    Sinônimo de difamar. Possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
  • “A coisa tá preta”:
    A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
  • “Serviço de preto”:
    Mais uma vez a palavra “preto” aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma tarefa mal feita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
  • Inveja branca”:
    A ideia do branco como algo positivo é impregnada na expressão que reforça, ao mesmo tempo, a associação entre preto e comportamentos negativos.

Existem, ainda, aquelas expressões que são utilizadas com tanta naturalidade que muita gente sequer percebe a conotação negativa que tem para o negro. Por exemplo: “mercado negro”, “magia negra”, “lista negra” e “ovelha negra”, dentre outras inúmeras expressões, em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.

E o que podemos fazer pra mudar isso? Nos policiar. Não ensinar aos nossos filhos tais expressões.

Sei que muitos fazem sem nem entender o significado, mas o conhecimento liberta. Salva! Acredito que a mudança vem de dentro de casa. Portanto, seja uma pessoa anti-racista. Ensine seus filhos a o serem. Salvem vidas…

E você mamãe de uma criança negra, ensine-a a ter auto-estima e se reconhecer bela.

Se criarmos crianças conscientes, teremos adultos saudáveis. E se cada um fizer a sua parte, o amanhã do meu filho pode ser diferente do hoje em que vivemos.

Imagem: Banco de imagem

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