Eu não quero mais fingir que eu sou uma mulher que dá conta de tudo, porque eu não dou conta de tudo e eu não quero dar conta de tudo. Eu não acho justo ficar aqui me desdobrando ao longo dos dias, todos os dias, fingindo que consigo fazer todas as coisas que a sociedade não apenas espera como exige e cobra que eu faça.

Que eu acorde, vá para a academia, faça pilates, prepare um café da manhã saudável para as crianças, faça o para casa com toda a paciência e devoção, prepare um almoço com as cinco cores no prato, que as crianças comam tudo, bem, sem reclamar (se não comem bem a culpa é da mãe).

Que eu venha trabalhar linda, maravilhosa, magra, maquiada, bem vestida, sem um amarrotado na roupa. Esperam que eu trabalhe impecavelmente como se não tivesse família ou qualquer outra preocupação que não seja da empresa.

Esperam que eu saia do trabalho, busque as crianças, leve nas atividades extras – porque criança precisa fazer atividade extra – chegue em casa, dê banho, prepare o jantar, dê o jantar, lave as coisas da pia, lave as roupas do cesto, dê uma geral na casa, tome um banho e, quando o marido chegar cheio de alegria/ tristeza/ cansaço/ tesão, capriche no sexo para no dia seguinte começar tudo de novo.

Porque é assim, não é? Qualquer mãe que você perguntar: “como é a sua rotina?’, eu aposto dez reais que assim que ela conseguir parar de chorar, vai te dizer que é mais ou menos assim que ela GOSTARIA DE SER porque “é assim que é”.

Algumas dizem “sabe, às vezes eu me escondo no banheiro para chorar” e meu coração se quebra em mil pedacinhos, porque eu também me escondo no banheiro para chorar como se chorar fosse uma fraqueza. E gente, chorar não é fraqueza, chorar é a alma pedindo socorro, pois você está cansada, você está exausta, você está triste, você precisa de um abraço, café gostoso e bolo quentinho com uma amiga.

Eu queria dizer que a gente não precisa se sobrecarregar. Não é normal e nem humano ser sobrecarregada. Não é normal carregar esse peso de dar conta de fazer absolutamente tudo na vida.

Usei no meu último texto o “normalizamos a sobrecarga materna” e vejo, frequentemente, mulheres se vangloriando por serem guerreiras que dão conta de tudo. Queria te dizer, irmã, que você não precisa ser essa guerreira. Você não precisa ser essa pessoa que faz tudo o tempo todo sempre. Isso é desumano.

Precisamos encarar a nossa própria vida com mais leveza. Entendermos que antes de sermos mães, somos humanas e isso significa que temos fraquezas, momentos ruins, falhamos, desistimos, queremos comer porcaria e dar porcaria pro filho comer e isso não é ser “bad mom” e nem motivo para julgamento da sociedade.

A Dra. Kristin Neff, professora e pesquisadora da Universidade do Texas, dirige o Laboratório de Pesquisa do Amor Próprio, no qual ela estuda como desenvolvemos e praticamos esse sentimento. De acordo com Kristin, o amor próprio tem três elementos: generosidade consigo mesmo, humildade e consciência.

  • Generosidade consigo mesmo ⇒ dedicar amor e compreensão a si mesmo quando você sofre, falha ou se sente inadequado, em vez de ignorar a própria dor ou se autoflagelar com críticas;
  • Humildade ⇒ esse sentimento reconhece que o sofrimento e as ideias de inadequação pessoal fazem parte da experiência humana em geral – algo por que todos passam, e não uma coisa que acontece somente a você;
  • Consciência equilibrada ⇒ abordar as emoções negativas com equilíbrio para que os sentimentos não sejam sufocados nem exagerados.

Acho que pra gente mudar esse sistema patriarcal no qual estamos tão profundamente inseridas é necessário, antes de tudo, olharmos para nós mesmas com mais carinho. Com mais amor. Com mais compaixão. Só entendendo a nossa exaustão conseguiremos olhar para o companheiro e falar: você precisa assumir as suas responsabilidades dentro de casa. Com as crianças. Com as situações. Você precisa ser tão responsável quanto eu sou.

Vou tirar minha capa de invisibilidade. Não serei mais sobrecarregada. Conto com você na minha jornada.

Você vem?

@flavinhalv

Imagem: Pixabay

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