Por Flávia Vianna

Renata Correa escreveu um texto há algum tempo sobre a invisibilidade das mulheres que até hoje me arranca lágrimas. Depois que assisti “Tully”, então, foi como se eu tivesse desmoronado e visto o tamanho da minha insignificância perante a sociedade patriarcal.

Mulheres da minha idade, com 30 anos, no auge da vida adulta, até então felizes no casamento, no trabalho e na família sentem-se totalmente alheias e invisíveis. O que eu tenho visto de mulheres pedindo a separação ou crise com os maridos é enorme. Não é incomum vê-las na sala de espera do psiquiatra ou psicólogo.

Eu sou mãe há 10 anos e até então eu só convivia com o machismo. Entretanto, depois da maternidade, me choquei de forma cruel com uma opressão patriarcal que até então não conhecia.

E o pior, meninas, é que vamos normalizando as coisas. Vamos normalizando a sobrecarga física, mental e psicológica. Ouvimos tanto aquela máxima: “toda mulher aguenta, por que você não aguentaria?” que vira quase uma questão de honra: “sou mulher demais sim”. E vamos seguindo os dias em loop, presas em nossas próprias rotinas. Nos desconstruimos inteiras para servir aos filhos, vestimos uma capa de invisibilidade deixando de fora apenas a abnegação.

Daí os bebês crescem, viram crianças, depois crianças maiores e um dia a mulher, enquanto faz a lista mental das pendências da casa, redigindo um documento para o chefe, contabilizando o tempo para chegar na escola, pegar as crianças e levar para a natação, se dá conta de que algo não está certo. Pelo contrário, algo está errado.

Então ela percebe a transformação brutal e impiedosa pela qual passou. Ela percebe que todos os anos que não existiu para si mesma são pesados e que o seu então companheirão, que adorava passar o dia com ela na cama rindo ou assistindo filmes ruins, não a acompanhou nessa metamorfose.

A minha sensação hoje é a que eu, que sempre fui quebrada e nunca consegui me reconstruir por diversos motivos, mas me fortifiquei quando virei mãe, mesmo sete anos depois do nascimento do meu filho mais novo, sigo tateando pelos escombros, tentando me reerguer mais rápido e retomar a vida que um dia eu já tive. Uma vida além de mãe, do lar, jornalista, amiga, filha, irmã mais velha.

Sigo me buscando, tentando reencontrar e voltar a ser a mulher que um dia eu fui. Engraçada, pensante, companheira, disponível, divertida.

E é triste perceber que enquanto eu tento me reconstruir e fortificar, eu estou sozinha. E aos poucos vou percebendo que ao invés de receber pouco ou qualquer coisa, é melhor aceitar que essa metamorfose é uma dádiva das mulheres. Para as mulheres.

Chega um momento da vida que precisamos trocar a abnegação cega por uma coragem insana por nós mesmas.

Vale a pena. Acredite!

@flavinhalv

1 comentário

  1. Nossa…..me vi nesse texto, tentando catar meus caquinhos por ai. me sinto sozinha nessa caminhada.

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