Passados os 3 primeiros meses aqui em Portugal, quase tudo organizado! Documentos, casa e rotina entrando no eixo. Ufa! Hoje vou contar para vocês um pouco do que vivemos até aqui em relação à adaptação da minha filha Sabrina, de 4 anos.

Contamos para ela sobre a mudança desde o início, quando ela estava há um mês de completar 4 aninhos. Explicamos que iríamos mudar de casa e de país, que isso significaria morar longe da vovó, do vovô, mudar de escola, ter novos amiguinhos, etc. E, apesar de entender muito bem, ela não tinha noção real da distância e de como seria tudo.

Tentamos envolvê-la em todos os processos da mudança, desde arrumar as coisas para sair do nosso apartamento, separar brinquedos e roupas que viriam, mostrar no mapa aonde iríamos morar, tudo com bastante detalhe, inclusive da saudade que iríamos sentir da família, dos amigos, da nossa casa e de coisas que teríamos que deixar, sempre tentado ressaltar a troca positiva que ela teria.

Em todo momento ela se mostrou feliz. Houve uma ou duas vezes que ela questionou algumas coisas e disse não querer mudar, mas com uma conversa ela já se empolgava novamente com a mudança.

Algumas vezes, ainda no Brasil, ela me viu chorar e perguntava se eu estava triste. Eu respondia a verdade, que era apenas um sentimento de amor e de lembranças das coisas que estávamos deixando para trás e me faziam chorar emocionada, mas não de tristeza. E ela enxugava minhas lágrimas me dando força, dizendo que estaríamos juntas, que seríamos felizes e que quando tivéssemos saudade era “Só gravar um áudio ou SÓ pegar o avião e vir pra casa da vovó” (o áudio seria fácil, mas a parte de “SÓ” pegar o avião ela não sabia que não seria tão fácil).

Chegou o dia de virmos. Foi para o aeroporto feliz, como se fôssemos fazer uma viagem de férias! Na despedida, família e amigos queridos no aeroporto… Em meio aos abraços demorados e muitas lágrimas derramadas, uma menininha feliz, carinhosa, se despedia de todos como se fosse um até “amanhã”, ainda sem noção da distância e do tempo que poderia passar longe.

… PAUSA… Tive que me recompor ao relembrar desse dia!

Assim que passamos pelo portão de embarque, foi como se algo nela tivesse ativado naquele momento. A ficha caiu, despencou de uma vez e ela começou a chorar copiosamente dizendo: “Quero voltar para Belo Horizonte… Quero ficar em casa mamãe”! Nem precisa dizer que tive que enxugar minhas lágrimas que ainda insistiam em cair e ser forte para encorajar alguém que precisava mais de mim do que eu mesma naquele momento.

Eu e marido conseguíamos entreter por um tempinho, alguns minutos e logo vinha novamente a lembrança: “Mamãe quero voltar, quero ficar aqui com a família toda”… Naquele dia fui mais psicóloga que mãe… Para mostrar para ela que estávamos indo para um lugar onde acreditávamos ser melhor, principalmente para ela, e que teríamos uma casa tão ou mais feliz do que a que estávamos deixando para trás. Que dali para frente estaríamos mais unidos do que nunca e que nossa família não mudaria em nada, pelo contrário, seríamos três fortes mosqueteiros a batalhar por um mundo melhor para nós todos, mesmo sabendo das dificuldades que poderíamos encontrar pela frente.

A aceitação durou pelas duas primeiras horas do voo enquanto assistiu a um filme e jantou. Quando o soninho bateu, voltou o choro com pedido de voltar para casa, que durou por alguns minutos até adormecer suspirando em meu colo, quando imediatamente eu desabei!

Imaginei, naquele momento, que assim que pousássemos e chegássemos à cidade que viemos morar, as novidades e descobertas tomariam o lugar do sentimento de querer voltar e ela ficaria bem. Mas não foi bem assim…

Nas três primeiras semanas tivemos dias difíceis.

Sem dúvidas vieram novas descobertas, coisas boas. Mas, morando em um quarto de hotel, com dias frios e chuvosos, em que só saíamos para almoçar e jantar, combinado com o fato de o pai trabalhar o dia todo, fez com que ela ficasse entediada, agitada e nervosa. Foram dias de muito choro. Nunca vi minha filha tão abatida e descontrolada como naqueles dias!

Ela queria chamar atenção para o quanto estava triste e inconformada com aquela mudança na vida dela, afinal, onde estava a casa nova com o quartinho novo e lindo que havíamos dito que ela teria? Ali era um quarto sério, fechado, com doze malas “acomodadas” pelos cantos e pouco espaço para brincar. Muitas vezes, a diversão era um banho na banheira… Não foi nada fácil!

Até que, 28 dias depois, mudamos para nossa casa! Quando chegamos lá parece que algo foi ativado nela que a trouxe de volta ao mundo. Seu quartinho começou a tomar forma (demos prioridade a ela para que se adaptasse o quanto antes) e, paralelo a isso, corremos atrás dos documentos para matriculá-la na escola. E, uma semana antes do carnaval, ela entrou na escolinha!

A escola

Um novo desafio nos aguardava…

Ela foi muito animada no primeiro dia, o segundo começou a sentir minha ausência e chorou até adormecer nos braços da auxiliar da professora. Além do apego a mim, pois já estávamos há tanto tempo juntas por 24 horas, desde novembro quando entrou de férias no Brasil, ainda teria a dificuldade do idioma (sim, apesar de ser Português é outro idioma, e por vezes nos sentimos na Grécia. Rsrs).

Imagina para ela, tantas mudanças…

Os dias subsequentes não foram fáceis, muito choro lá e aqui também porque eu ficava despedaçada. Mas o tempo foi passando e, aos poucos, foi ficando mais leve, até que enfim, vencemos a batalha no dia em que ela acordou e disse: “hoje eu vou feliz para escola e não vou chorar mamãe”! Chegando lá, me deu nove beijos (tivemos que contar os nove porque eram quantos ela queria dar) e foi querendo ficar, mas me ensinando como ser forte…

E foi assim que se deu a adaptação da minha filha.

Na próxima coluna, vou falar sobre as diferenças da escola e do ano letivo daqui com o Brasil.

Beijos!

Fotos: arquivo pessoal

10 Comentários

  1. Excelente texto! Ajuda muito! Pra mim tb foi difícil, especialmente porque vim para fugir da violência do RJ após 16 assaltos e muito trauma e sentia muito medo de fazer as crianças sofrerem por minha causa, mas apostei que o futuro seria melhor pra elas tb e se Deus quiser será ????????! O melhor momento para mim foi quando minha filha mais velha (7anos) saiu da escola após o primeiro dia de aula e me disse que adorou a escola e que era mais legal que a do Brasil, que tinha sido muito bem recebida pelos colegas e pela professora (???? Foi muita emoção neste momento!)

    • Aline que bom que o texto ajudou de alguma forma. Seu coração de mãe fez a escolha certa para vc e sua família, e quando vemos que um filho está feliz a realização vem !!!

  2. Eu como avó da Sabrina e mãe dessa filha encantadora que tenho vivenciei do Brasil e elas em Portugal dessa mudança tão difícil pra toda família…sofria calada…chorava pelos cômodos vazios da minha casa sem a presença delas…Mas conseguimos ficar apenas 3 longos meses distantes…Foi maravilhoso poder reve-las felizes e já se adaptando ao lugar…Novos amigos…Uma rotina completamente diferente de uma cidade grande …Mais saudável…Mais tranquila e o melhor sentir -se mais segura…Agradeço muito a Deus por ver que foi uma mudança do bem…Vou sentir muita saudades mas sei que é só um até breve…Logo estaremos juntas de novo…AMO VOCÊS MINHAS MENINAS…

    • Ah mamis .. estamos há 1 dia da sua partida após esses 3 meses juntinhas aqui em Portugal… mais uma vez vamos nos despedir. É a pior parte, mas tb tenho certeza que será apenas um até breve e a saudade já está apertando pq vivemos dias deliciosos na cia uma da outra. Obrigada por tuuuudo ! Te amo infinitamente e incondicionalmente!!!

  3. Alinne, minha querida amiga, que texto lindo!!! Posso dizer que vivi com você todas essas angústias, por era com suas amigas (eu, Rê, Fê e Alê) que você vinha desabafar e pedir opinião de como agir em certos momentos, e gracas a Deus no final deu tudo certo. Hoje estão felizes e adaptadas a nova vida. Mas a SAUDADE, essa sim aumenta a cada dia. Desejo que você e sua família seja cada dia mais feliz. Um beijo pra vocês. Love You. ❤

    • Obrigada Kellynha!! Vcs são meu suporte, meu apoio mesmo que “virtual” e eu amo muito ter vcs na minha vida ! Obrigada amiga … a saudade só aumenta mesmo. Mas em breve vamos curtir muitos momentos juntas, eu e meu quinteto fantástico ! ❤️????

  4. Ah amiga caiu um cisco aqui de novo,a gente sempre se emociona qd lembra de cada detalhe, principalmente nós que acompanhamos de perto!!!Vendo Sasa no Aeroporto,lembro da nossa despedida e do seu último tchau no portão de embarque,vai ficar guardado pra sempre na minha memória.Hoje a saudade é grande, mas se acalma diante de tantas coisas boas que vcs tem vivido!!!
    Até breve, bjs!!!

    • Ah amiga, muita emoção ao lembrar de tudo. A sua amizade é sem dúvida um acalento pro meu coração ! A distância é muita mas nunca será capaz de nos afastar e de vivermos muitas coisas juntas ainda !
      Te amo. Obrigada por tudo. Até breve se Deus quiser. Bjus!

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