Era 2018 e o mês de março se aproximava. O temido mês em que o meu filho completaria 5 meses e eu já teria usufruído de todo o período da licença maternidade e restinho de férias. Em cidade grande, com a família distante e tantas histórias de terror doméstico na TV, optamos por berçário.

Quase um ano depois, me lembro como se fosse hoje da saga para escolher a escolinha/berçário. Visitamos doze instituições. Papai, neném e eu buscávamos um sentimento unânime, um lugar onde pudéssemos sentir confiança no itens básicos de higiene, saúde, estrutura, amor e carinho. Sobretudo, queríamos encontrar um acolhimento que nem nos maiores exercícios de empatia pré-maternidade eu imaginei que pudesse demandar. Enfim, escolhemos.

Primeiro dia de adaptação. Estava frio e embrulhei o meu pacotinho de amor soberano para entregar nas mãos da berçarista. No caminho, segurando o choro como nunca, me lembrava das orientações: “o seu filho percebe o que você está sentindo, fique calma, ele vai ficar bem”; “o bebê fica supertranquilo, nessa fase a adaptação é mais dos pais do que da criança”. O marido/papai, um poço de tranquilidade, subia junto e precisava voltar ao trabalho, negócio próprio.

Relutei algumas vezes até deixar o pequeno nas mãos de outra pessoa. Como assim, depois de 5 meses grudada 24h no pedacinho de mim e do papai, eu simplesmente o entregaria a outra pessoa e viraria as costas para ficar horas longe? E se a fralda não fosse trocada direito? E se a mamadeira não fosse feita adequadamente? E se algum coleguinha fizesse algo com ele? E se ele acordasse no bercinho e as berçaristas não vissem que ele estava chorando? Como eu voltaria à rotina de trabalho em uma indústria sentindo uma falta tão absurda do meu bebê? Será que eu daria conta mesmo?

Sentei no “cantinho da adaptação” e desmoronei. Derreti em lágrimas e a escolinha, de forma gentil, me encaminhou à psicóloga e escalonou um pouco mais a adaptação. Até que ela aconteceu… Nos primeiros dias de volta ao trabalho, eu sentia um misto de alegria por fazer o que amo, culpa, saudade, satisfação profissional, medo… Tudo junto e misturado!

Além de tantos outros “paga-línguas” que a maternidade me trouxe, eu aprendi a entender as mães que optam por deixar trabalhos fora de casa para dedicar mais atenção às crias. O que antes eu via como uma ação duvidosa e muitas vezes cruel com a mãe profissional, agora enxergo sob lentes de amor e apego.

Sigo buscando diariamente o equilíbrio. Tenho uma rotina de trabalho absurda, mas prezo pela qualidade e dedicação quase exclusiva a cada minuto que tenho com o meu pequeno. Ganho força quando lembro da minha infância em que meus pais chegavam do trabalho e brincavam comigo e minhas irmãs incansavelmente até a hora de dormir. Acelero os passos ao voltar para casa. Tento pensar que ele sente o meu amor o tempo todo.

Foi principalmente por ele que resolvemos mudar radicalmente de lugar, de estilo de vida, de ares. Mas esse é um relato que deixarei para o próximo artigo.

Até lá!

 

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