“Primeiro: nunca me afaste dos meus netos.
A distância suportável é aquela do alcance dos olhos ou, no máximo, aquela que me permite em poucos minutos – mas pouquíssimos mesmo – estreitá-los nos meus braços.
Segundo: nunca os corrija na minha presença.
Nós, avós, acumulamos uma experiência que nos permite, hoje, arrepender por ter feito isto na presença dos nossos pais. É doloroso ver meus netinhos impedidos de um brinquedo, de uma vontade, olhando, obediente, os outros brincarem. Nosso coração chora.
Terceiro: se eles chorarem querendo o avô, não os contrarie.
Na verdade, eles nem precisam chorar, dá para perceber a vontade deles.A qualquer hora nós os acolheremos, seja participando de suas brincadeiras, seja acolhendo-os na nossa cama, brincando de cabana, fazendo guerra de travesseiros e, por fim, velando o soninho recompensador deles.
Quarto: nunca infrinja um castigo físico aos meus anjinhos.
A eventual mordida, o eventual tapa, o puxar de cabelos é uma reação a um estímulo. Vamos descobrir este estímulo. Meus netos não fazem isto por maldade ( lembrem-se que são anjos ), o coração deles é de amor.
Quinto: tenham paciência se eles demoram a dormir.
Dormir é bom para nós adultos que vivemos num mundo atribulado e o sono nos proporciona energia para enfrentar o dia-a-dia seguinte. O mundo dos meus netos é de faz-de-conta; é muito melhor ficar acordado. Me entreguem eles quando sentirem que a paciência começa a acabar; vou contar estórias lindas para eles (ser avó incorpora uma grande capacidade de contador de estórias).
Sexto: não cobrem deles atitude de adultos.
Não sei porque os pais acham bonito o filhinho ter postura de adulto.
Criança é criança e é bom que eles aproveitem cada minuto desta criancice. Eles não pensam como os adultos (menos os avós), a cabecinha deles é de sonhos, não está conspurcada pelos conceitos modernos disto ou daquilo. Eles são puros e agem segundo esta pureza.
Sétimo: deixem o avô amar eles incondicionalmente.
Não sabia, até tê-los, que nada no mundo é melhor que a existência dos meus netos. Se me emociono, podem ter certeza, o principal motivo é a travessura que eles fizeram, é a tirada inesperada em uma situação, é o sucesso em montar um brinquedinho ou resposta a uma pergunta mais difícil, é o neologismo abundante no seu falar todo próprio, enfim, é a simples lembrança deles.
Não os estrago, tempero as atitudes dos adultos na receita de uma futura lembrança boa da infância que tiveram (agora entendo a saudade que tenho da única avó que conheci, e por pouquíssimo tempo).
Amá-los e tê-los próximos é a principal razão da minha vida.
Por fim, não pensem que me coloco na situação de que, nós avós, sabemos de tudo. Não, não sabemos, se soubéssemos seríamos avós muito mais cedo.
( inspirado na imensa saudade do Deco e da Fefê, na peraltice do Peto e no sorriso constante do Lobi ).“
Há 4 anos recebi esse texto do meu pai… e não há dia melhor para compartilhar. Feliz Dia dos Avós!
Mariana Bicalho