Veja aqui 7 dicas de filmes com temáticas super relevantes

Por Carol Barreto e Luiza Barreto

Tentar entender para debater a adolescência é, inevitavelmente, algo pretencioso. Afinal, estamos cansados de saber que essa fase da vida está em constante movimento e as transformações são sempre marcadas pelo tempo e espaço em que acontecem. Mas somos pais/mães e também faz parte da nossa constituição como tais, ainda que pretenciosos, buscar apreender o que se passa com nossos filhos nessa fase de transição.

Como aquele serzinho que cuidamos com tanto zelo está se transformando em algo que eu não previ?? Porque não reconhecemos suas atitudes ao pensar na formação de lhes demos? São questionamentos comuns, que todo pai/mãe de adolescente passa em algum momento.

Como mãe e educadora, particularmente acredito que existem dois caminhos para tornar a compreensão dessa fase menos penosa: lembrar e escutar. Creio que seja muito importante fazer um mergulho no que foi a nossa adolescência e abrir nossos corações para ouvir como é a dos nossos filhos.

Para fazer esse mergulho em vivências pessoais é crucial alguma disposição para lembrar muitas coisas que a memória, intencionalmente ou não, ajudou a maquiar e distorcer. Precisamos nos dispor a entrar em contato com a angústia de quando não fazíamos a menor ideia do que fazer conosco e com a vida; com o sofrimento e dessabores por amores ou pela rejeição dos pares; com a imensa sensação de fragilidade da autoimagem; com a relação paradoxal de amor e ódio, admiração e desilusão com os pais; com os questionamentos sobre sexualidade e desejos inconfessos; e tantos outros sentimentos profundos que nos assolam nessa fase.

Pensar e elaborar a própria adolescência é crucial para separar os nossos fantasmas e traumas da experiência que agora é ou será vivenciada por nossos filhos. Esse movimento é fundamental para darmos espaço à escuta e à empatia. Precisamos ouvi-los e sermos capazes de nos pensar no lugar deles, em um contexto e épocas diferentes das que vivemos, mas com o mesmo turbilhão de sentimentos que nos atravessaram.

Mas não é fácil. Justamente porque décadas nos separam nessa vivência que é sempre afetada pelo espaço/tempo em que acontece. E a arte, em geral, possibilita a criação de pontes entre épocas e vivências. O cinema, especificamente, é uma expressão artística muito eficaz em retratar o momento com agilidade. Inclusive podemos pensar que o cinema formata a adolescência ao mesmo tempo em que a retrata.

Pensando nas possibilidades de debates que as produções audiovisuais podem trazer para as relações entre pais e filhos, convidei minha filha Luiza, de 14 anos, para fazermos juntas uma lista de 7 produções que abordam temas absolutamente atuais para a geração dela e que possam auxiliar os pais a pensarem e conversarem com os filhos.

Juno (2007)

O filme independente Juno faz uma análise sensível sobre as questões da gravidez na adolescência. Na história, Juno é uma jovem de 16 anos que fica grávida de seu vizinho e melhor amigo na primeira relação sexual entre os dois. Sentindo-me imatura para ser mãe, Juno explora a possibilidade de aborto, recusando ao procurar uma clínica, e decide por entregar o filho à adoção. O filme aborda temas difíceis em qualquer época ou cultura: sexualidade, aborto, gravidez na adolescência. E é um filme surpreendentemente delicado. Seu principal trunfo é não tratar a questão da gravidez como um drama excessivamente pesado ou um dilema existencial intransponível para a adolescente e a família e, ao não dar contornos tão complexos e insuperáveis à sexualidade e à gravidez precoce, sugere uma abordagem mais leve, natural e não-agressiva dos fatos. Essa suavidade é, até mesmo, abrandada com um pouco de humor, também inerente à adolescência. Apesar de ser de 2007, segue muito atual, sensível e absolutamente verossímil.

Gênero: Comédia, Drama | Direção: Jason Reitman | Ano: 2007 | País de origem: EUA |Classificação indicativa: 10 anos | Onde assistir: Amazon Prime

Eu não quero voltar sozinho (2010 – curta-metragem)

Leonardo é um adolescente cego que sofre bullying de seus colegas de escola. O filme retrata o conflito de Leonardo quando um novo colega, Gabriel, entra na mesma turma que ele. Até então, Léo só tinha uma amiga: Giovana, com quem convive desde a infância. O conflito do personagem é muito simples, mas também complexo para qualquer adolescente: apaixonar-se. O aditivo que complica a situação é que além de cego, Leonardo se descobre gay e apaixonado por Gabriel. Eles têm de entender a si mesmos e ainda tentar preservar a amizade de Giovana, que parece se abalar com as mudanças que a vinda do novo rapaz ocasionou. O filme foi amplamente divulgado no youtube, tendo milhões de visualizações. Anos depois, foi adaptado para uma versão em longa-metragem. Diversas escolas pelo país exibiram o curta em sala de aula para debater questões com os adolescentes, pela delicadeza e sensibilidade com que aborda os temas do jovem com necessidade especial e a homossexualidade.

Gênero: Ficção | Direção: Daniel Ribeiro | Duração: 17 min | Ano: 2010 | País: Brasil | Classificação indicativa: 12 anos | Onde assistir:  Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=1Wav5KjBHbI

As vantagens de ser invisível (2012)

Adaptação para as telas de livro homônimo do diretor e escritor americano Stephen Chbosky, o filme toca em assuntos delicados da adolescência: ansiedade, depressão, suicídio, traumas, desafios sociais. Na história, acompanhamos Charlie, um tímido garoto de 15 anos que está começando o primeiro ano do ensino médio em uma escola nova. O adolescente enfrenta uma depressão com tendências suicidas, aguçada pela perda de seu melhor amigo e de uma tia. Ele enfrenta as inseguranças da autoimagem, é constantemente alvo de bullying e se sente invisível, pela dificuldade de fazer amizades, manter relações sociais e o sentimento de não ser notado por ninguém. Quando conhece Sam e Patrick, adolescentes da “turma dos deslocados”, Charlie começa a experimentar novas possibilidades de juventude, com festas, drogas e, claro, o amor e as primeiras experiências sentimentais e sexuais. É dentro do grupinho que o jovem se apaixona, dá seu primeiro beijo, começa um relacionamento por não saber como dizer não e passa por um término desajeitado. Com os novos amigos, Charlie conquista a sensação de pertencimento e felicidade. Todo esse processo de crescimento e de descobertas, além dos momentos de empatia dos novos amigos com o garoto, faz com que os jovens se identifiquem e se emocionem com as cenas. Uma frase dita pelo professor tornou-se queridinha dos adolescentes na época do lançamento do filme e segue muito relevante: “nós aceitamos o amor que pensamos merecer”. Apesar de temas pesados, o filme é super delicado e comovente.

Gênero: Ficção | Direção: Stephen Chbosky | Duração: 102 min | Ano: 2012 | País: Estado Unidos | Classificação indicativa: 14 anos | Onde assistir: Netflix

Boyhood – da infância à adolescência (2014)

A proposta dessa produção já chama atenção em sua composição: o filme experimental foi feito ao longo de doze anos pelo diretor Richard Linklater, para retratar de perto o crescimento do protagonista dos 6 aos 18 anos, mantendo os mesmos atores ao longo desse período. Boyhood conta a história de um casal divorciado às voltas com a criação dos filhos, com foco em Mason, filho mais novo do casal. O longa trata da infância até a adolescência do garoto, que cresce e amadurece em meio aos conflitos de seus pais e consegue ilustrar, de maneira própria e autoral, a ascensão da Geração Z. Os vários relacionamentos e separações da mãe, o amadurecimento tardio do pai, as diversas mudanças de casas e os amigos que ficaram para trás são marcas na personalidade de cada um dos filhos que jamais serão apagadas. O roteiro também não ignora que adolescentes conhecem bebidas e drogas em meio às relações sociais que constroem. Os 12 anos passam-se sem aviso algum. Você só os percebe pela mudança física, da tecnologia, das formaturas, da ida à faculdade e do ninho vazio. As palavras de Mason, na cena final, são bem realistas: nós somos o resultado de uma coleção de instantes mais ou menos memoráveis. A felicidade está em vivê-los intensamente acompanhando essas mudanças.

Gênero: Drama | Direção: Richard Linklater | Duração: 2h45min | Ano: 2014 | País: Estado Unidos | Classificação indicativa: 12 anos | Onde assistir: Star+

Com Amor, Simon (2018)

O filme conta a história de Simon Spier, um jovem de 16 anos, morador de um subúrbio americano, cuja vida é completamente comum e banal, a não ser por um segredo: ele é gay. Enquanto a maioria dos jovens adolescentes heterossexuais crescem assistindo dezenas e dezenas de filmes sobre o colegial, com seus beijos técnicos e enredos de superação e perseverança, adolescentes gays encontram nessa produção uma oportunidade de representatividade, porque o segredo de Simon é o grande protagonista da história – e muitos adolescentes vivem este segredo. A trama começa quando Simon vê uma postagem anônima de alguém do colégio que se diz gay e começa a trocar mensagens para partilhar experiências. Sob pseudônimos nas trocas de e-mails, acompanhamos dois jovens se apaixonarem virtualmente. Mas esse cenário se complica quando um outro colega, Martin, descobre as conversas e ameaça publicá-las, a menos que Simon consiga juntá-lo com sua amiga, Abby. Ao longo de confusões mirabolantes para proteger seu segredo, Simon sai oficialmente do armário, identidades são reveladas, corações quebrados e famílias desestabilizadas. A jornada de Simon até se assumir homossexual trata do assunto dentro de uma zona de conforto: Simon é branco, de classe média alta, tem amigos e família que o apoiam e a sombra de homofobia que paira sobre ele revela-se bem menos nociva do que o imaginado – e do que, em geral, de fato ocorre no dia a dia. Mas é um filme muito importante, porque acessa todo tipo de público (jovens e adultos). Mesmo se arquitetando nessa zona de conforto, o filme constrói bem seus personagens – todos eles -, cria momentos de identificação fortes, passa uma mensagem coesa e a sensação de verossimilhança é constante.

Gênero: Drama, romance, LGBTQIA+ | Direção: Greg Berlanti | Duração: 109 min | Ano: 2018 | País: Estado Unidos | Classificação indicativa: 12 anos | Onde assistir: Star+

O ódio que você semeia (2018)

O “Ódio que você semeia” fala sobre uma temática que cada vez mais tem sido discutida de forma ampla na sociedade: a violência policial. Mas a diferença é que o tema é abordado sob o ponto de vista de uma adolescente negra: Starr, que presencia o assassinato do melhor amigo por um policial branco. Ela é convocada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime. O filme foi inspirado em um livro de mesmo nome da escritora Angie Thomas, que alcançou o primeiro lugar na lista do New York Times. Numa cidade fictícia nos Estados Unidos, o filme estabelece dois blocos geográficos que, socialmente, são praticamente opostos. De um lado temos um bairro de população majoritariamente negra, que convive com o crime trazido pelos conflitos de gangues do tráfico; do outro há um bairro de população majoritariamente branca, onde todos possuem boa situação financeira e os índices de criminalidade são baixos. Entre os dois blocos, flutua Starr Carter. A jovem vive na região dos negros, mas seus pais, pensando no futuro de Starr e de seus irmãos, Seven e Sekani, os matriculou na escola mais cara da cidade, que fica no bairro dos brancos. A história transita entre esses dois mundos, mostrando suas diferenças e conflitos para desenvolver discussões sobre o racismo em suas mais variadas formas. A personagem principal enfrenta uma intensa travessia que vai do conforto a um estado de indignação irreversível. O discurso de O Ódio Que Você Semeia é duro e frontal, traz um retrato poderoso da discriminação racial. É desafiador conter as lágrimas em certos momentos, especialmente naqueles em que a constatação dos abismos se torna perfurante. Um filme poderoso para trazer essas questões para o debate com nossos filhos.

Gênero: Drama, crime | Direção: George Tillman Jr. | Duração: 132 min | Ano: 2018 | País: Estado Unidos | Classificação indicativa: 12 anos | Onde assistir: Google Play

Red: Crescer é Uma Fera (2022)

Animação recém lançada pela Disney, Red acompanha Mei Lee, uma estudante chinesa-canadense de 13 anos dividida entre continuar sendo uma filha obediente e o caos da adolescência. Ming, sua mãe superprotetora e um pouco autoritária, nunca está longe dela. E como se as mudanças em seus interesses, relações e em seu corpo não bastassem, sempre que passa por fortes emoções – o que acontece praticamente sempre – ela se transforma em um panda-vermelho gigante. Ao saber que não é a única da família que passou por isso, a jovem descobre um ritual para remover o espírito do panda – algo que todas as mulheres da família passaram. Mas, ao longo dessa trajetória, Mei consegue conversar com o pai de maneira profunda sobre aceitar os defeitos e emoções que sente. E a jovem decide abraçar plenamente quem ela é e o que quer, optando, ao contrário das outras integrantes da família, por manter o panda-vermelho para o resto da vida, já que ele é parte do que a define como ser. Ainda que seja uma produção que habite o universo da fantasia, as metáforas do filme são lindíssimas. A construção da autoestima, com todas as singularidades individuais; a aceitação do que nos torna diferentes, mas também pertencentes; a possiblidade de transformação da autoimagem; estão retratadas de maneira leve, divertida, engraçada e muito bem articulada.

Gênero: Animação | Direção: Domee Shi | Duração: 132 min | Ano: 2022 | País: Estado Unidos | Classificação indicativa: Livre | Onde assistir: Disney Plus

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário