No ano passado estávamos assistindo a série “Reunião de Família”, uma série de negros. E em um dos episódios, as crianças que eram bem de vida, literalmente, foram confundidas com infratores ao tentarem entrar na própria casa.
Meninos de 8, 10 anos…
Eles tentam explicar, mas o policial não dá ouvidos. No fim tudo se esclarece, mas eles ficam super assustados. Com medo.
Nesse momento, meu filho Pedrinho, que cresceu ouvindo o quanto sua cor é linda e sabendo que é um menino negro, disse:
– Mas mamãe, eu também sou um menino negro, isso vai acontecer comigo?
A dor de ouvir essa pergunta, só não foi maior que a revolta de ser obrigada a dizer sim.
Expliquei com todo carinho de mãe, que isso poderia acontecer sim. Mas que se ele for uma pessoa boa e do bem, dificilmente aconteceria. E eu acabei mentindo pro meu filho, pra dar a ele uma esperança de futuro.
Converso com meu marido sempre sobre racismo. Ele, como homem branco, não imagina o que sofremos (e pasmem: já fui criticada por ter me casado com ele). Explico que ele tem que se inteirar sobre o assunto, para poder defender o Pedrinho. Afinal, ele é pai de um menino negro.
Não sei se consigo passar pra ele a verdadeira realidade disto, mas tento dia após dia…
Ontem me peguei dizendo: Como ter outro filho? Como colocar mais uma criança negra no mundo?
Chego a sentir que é egoísmo da minha parte, sabe?! Como se não me importasse com um futuro certo de preconceito e discriminação. Mas ao mesmo tempo penso: É meu povo. Minha raça. Minha cor.
Dói. Mas dói demais…
O que muitos dizem que é “mimimi”, é nossa realidade. Nua e crua! De ter alguém andando atrás nos corredores da loja. De não ser bem atendido nos lugares. E muitas outras situações.
Então, por favor, crie seu filho amando e respeitando pessoas. Ensine que todos somos filhos de Deus. Crie seu filho pra não aceitar uma injustiça contra o outro.
Ensine seu filho que cor de pele é a cor de cada um. Não aquele rosa claro que vem na caixinha de lápis.
Ensine-o a ter empatia!
Por Marcela Oliveira