Somente uma tentante sabe o quão grande é o sonho de ser mãe. É desejo que não se planeja, simplesmente vem! Incontrolável ao que parece ser natural em continuidade à reprodução de nossa espécie. É transcendência humana que não poupa o muito ou o pouco racional.

Tentante tem por consequência o despertar de uma “exigência divina” à reflexão humana. Indagação constante de um merecimento “evidente”. Por que ainda não engravidei? O que fiz de errado? Quanto tempo vou ter que esperar?

Descobri que neste assunto nem todas as explicações são científicas.

Do ponto de vista técnico, basta ter um médico especialista em reprodução humana e solicitar um check-up específico de infertilidade o quanto antes. É de direito investigar, quando desejar. Mesmo após todos os exames feitos, é comum nada encontrar. E se isso acontece, possivelmente as indagações se multiplicarão.

Por esse motivo, uma dica que dou é de sempre buscar hábitos saudáveis: praticar esporte, não fumar, reduzir a obesidade, etc. A ajuda psicológica também ajudará a controlar os níveis de ansiedade e, principalmente, ajudará a perceber e dar conta daquilo que sozinho não consegue vencer. Seja honesta contigo mesma, todos nós precisamos de ajuda!

Mesmo assim, o filho não vem e constatamos que há um tempo, um processo a ser percorrido, até aceitar que a infertilidade é algo real. Fluxos menstruais regulares não são carimbo de fertilidade. Já é hora de buscar compreender o que está além, esmagando nosso maior sonho.

Os meses e anos passam e aquele desejo tão esperado corrói no peito e na alma. A dor é física, o corpo está ferido e entorpecido de hormônios. Inconscientemente, bem lá no fundo, já há dúvida do merecimento da concepção da vida. Inevitavelmente, indagamos quem somos, o que fizemos na vida para merecer tal provação.

A dor provoca em ti uma necessidade de revisão comportamental e ideológica. Convicções são desbancadas pela realidade “seca”. Revisar as crenças, pensamentos e ações parece ser parte do processo da evolução de uma tentante. Processo que invoca sua essência.

O piloto automático da vida parece esconder nossas verdades, nossa consciência. Percebemos atos de glória se tornarem vilões. Será que não fui dura demais com meus pais que só me deram amor? Será que fui realmente justa com meu irmão? Será que eu poderia ter sido melhor para meu próximo lá atrás? O que preciso fazer agora?

Se escondemos a verdade de nós mesmas, a vida cria os caminhos para que a verdade se torne presente.

Tenho honrado meus pais, ou os responsabilizo pelos meus anseios? Ou tenho gastado meu tempo condenando eles? E com meus irmãos, amigos, familiares, o que sou e como sou com estas pessoas? O que há de mal resolvido na minha caminhada humana? As respostas se apresentam, ainda que resista a elas.

Percebi que desde os nove anos de idade, quando meus pais se separaram, eu não havia conseguido ter uma boa relação com a minha mãe. Ela saiu de casa, mas, tinha a expectativa que fôssemos querer ir morar com ela. O tempo passava, e mesmo desejando que nos déssemos bem, era só estresse. Éramos muito diferentes.

Em meu íntimo, algo me falava que talvez eu não merecesse ser mãe porque “eu não era uma boa filha”. Me esforçava cada vez mais para ter paciência e acolhê-la, mas pouco adiantava.

Nesse desconforto tive reflexões sobre o “eu”: esposa, filha, irmã, sobrinha, madrinha, etc. Recebi doses cavalares de maturidade e de humildade. Com isso, aos poucos, reconstruí relações importantes cuja consequência nem sempre havia sido reflexo do amor, da admiração e do respeito que realmente sentia. Pude observar como agimos por ego, por aceitação social, orgulho.

Um dia minha mãe me ligou e, novamente, começamos a brigar no telefone. Eu já tinha feito quatro ou cinco tratamentos para engravidar, todos sem sucesso. Comecei a chorar. Ela me perguntou por que eu estava chorando? Foi quando consegui falar a ela que eu acreditava não conseguir engravidar porque eu não era uma boa filha. Então, ela imediatamente me confortou dizendo que eu era sim uma boa filha, e que eu não deveria crer no contrário, porque ela sempre me amou e me enxergou como uma filha muito boa. Enfim, venci minha máscara de filha bem resolvida.

Entendo que era necessário eu falar e me libertar, ao mesmo tempo que o acolhimento dela pelo outro lado do telefone, significava um perdão, uma benção e a unção de merecimento que eu precisava ter para me tornar merecedora.

Acredito que foi um passo importante que dei em direção ao merecimento do meu filho, que veio logo depois disso. Foi um processo que precisei vencer. Como se a vida me colocasse este obstáculo para que eu pudesse ver a verdade.

Verdade é saber que eu deveria honrar meus pais que, sobretudo, me deram a vida. De alguma forma precisei romper meu orgulho e o medo de enfrentar o que fosse preciso para transformar a nossa relação de forma mais leve e respeitosa. Tudo poderia ter sido bem mais leve.

Minha dica consiste em passar a limpo suas relações, antes que a vida lhe invoque a olhar sobre duras penas para tudo aquilo que seu ego insiste em esconder, que sua mente torna inconsciente por uma sobrevivência falsa. Fugindo da dor o universo cria uma dor ainda maior para lhe chamar para a consciência plena.

Seja presença, e seja verdade consigo mesma!

 

Foto: banco de imagem

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