Ainda há pouco, acreditava conhecer profundamente o meu corpo. Dores que me deixavam manca das pernas sinalizavam em qual lado eu ovulava. A juventude que me tomava transbordava em energia, alegria e muita disposição. Meus projetos se multiplicavam em minha mente, como se multiplicam os dias de nossa existência.

Porém, pouco a pouco, fui percebendo, através da busca pela maternidade, que o conhecimento que eu tinha do meu “templo” já não era tão grande assim.

Ovular todos os meses já não significava fertilidade. Aos 30 anos, somente os exames feitos em laboratório sinalizaram que naqueles ovários, de dores tão evidentes, havia baixíssima reserva ovariana. Ainda sem filhos, a busca para que o tempo me permitisse ser mãe fez com que eu me atentasse ainda mais para o meu corpo.

Foram pouco mais de quatro anos de busca, que, inconscientemente, me exigiam perceber outros movimentos em mim… Da ansiedade, quando a agitação interna me controlava; do humor, quando ele não existia e a impaciência me domava. Por vezes me vi extremamente irritada e falando sem fim, coisas que sequer eu queria dizer. Obviamente que muitos abriram mão do meu convívio. Só permaneceram por perto aqueles que mais me amavam.

E o amor é mesmo algo que transforma seu olhar, suas atitudes e tolerâncias. Contudo, isso eu não era capaz de ver tão claramente. Por vezes, senti a dor do afastamento de alguém ou multipliquei meu carinho e apego por algumas almas boas e mais evoluídas que eu.

A certeza e a segurança que sempre tive já não eram tão fortes assim. Comecei a ter dúvidas, medos e muitas aflições… Elas me amadureceram, me trouxeram a humildade com o olhar de quem não se sentia tão imbatível assim.

Por uma vida usei as armaduras de um guerreiro para superar todas as provações da vida. Porém, esta era a hora de abaixar as armas. Parei e olhei para meu corpo desnudo. Tive piedade, vergonha e busquei uma releitura de tudo que eu ainda poderia transformar.

Encontrei no meu caminho, ora despercebido, vários diamantes que já haviam me concedido amor, cuidado e exemplo. Foi quando fui contemplada pela maternidade (aos 34 anos, milagrosamente engravidei) e a gestação foi um tempo de “altas”. Pois nele, eu estive extremamente leve, tranquila, feliz e realizada. Abençoada é a palavra.

Quando meu filho chegou (eu aos 35 anos), a gratidão tomava conta de mim, e toma até hoje. Vivenciei primeiro aquele tempo com toda entrega possível. Quando ele tinha 8 meses eu voltei a menstruar, mas os seis próximos meses já não mais. Assim, mais dois ciclos menstruais aconteceram espaçados de seis meses.

Foi quando, aos 37 anos, me senti novamente conduzida pelos medos, angústias e aflições. Porém, potencializados de fogachos, insônias, palpitações, perda de libido e de paz. Já não tinha energia e nem organização mental para os meus projetos. Comecei a me sentir ainda mais insegura, desestimulada, improdutiva, falante e impaciente. Passei noites e noites em claro até perceber que apesar de ter engravidado, os sintomas que há tanto tempo iam e vinham já representavam a menopausa.

Dividida entre opiniões contra e a favor da reposição hormonal, reconheci o meu limite e me cedi a ela. Continuava sendo um período muito difícil. Mas após 8 meses de iniciada a reposição, comecei a sentir o efeito dos remédios e, em um processo bem lento, a me reequilibrar novamente.

Hoje, após mais de três anos em reposição, continuo minha batalha emocional e física. Contudo, compreendi que aquele momento difícil se potencializava porque, além das questões internas, havia uma impiedade externa a qual eu não poderia mudar.

A verdade é que tanto nós quanto a sociedade já concedemos uma “licença” comportamental para as mulheres que, em idade de menopausa, apresentam tantos sintomas e temos mais compaixão. Contudo, este olhar não é o mesmo para as mulheres que vivenciam a menopausa precoce. Quase sempre as pessoas se afastam, criticam, rotulam e reagem sem amor.

Novamente, a necessidade de voltar para si, de autoconhecimento, evolução e ressignificação. Não esperar pelo melhor do outro e compreender que as viseiras evolutivas que cobrem os olhos da maioria permitem a compaixão pelos mesmos e a não expectativa de piedade. Sim, somos humanos e merecemos amor e carinho.

Minha dica é observar atentamente o que lhe traz paz, aconchego e conforto. Buscar mais e mais vezes estar neste contexto. Observando a emoção que sente e, principalmente, quem são as pessoas que estão contigo nestes momentos de amor e paz.

Inunde-se de bons momentos, os quais você seja a compreensão de si mesma e do seu entorno.

Luz e paz!

 

Imagem: banco de imagens

 

 

1 comentário

  1. Parabéns Carol , a esperança , perseverança e o amor são a sua força. Meu abraço carinhoso . Torço sempre por vc . 😘

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