Surge daí uma mulher diferente, mais forte, mais completa. É momento de evolução, mas não precisa ser momento de dor.
Não sinta culpa, jamais! Você está fazendo o seu melhor, e o seu melhor é o que sua família precisa.
O puerpério inicia-se logo após o parto. Pouco se discute sobre a vivência dessa fase. Na verdade, ela é esmagada entre o parto e a alegria do nascimento, a adaptação da rotina e a volta ao trabalho. A abdicação é um assunto quase tabu no que tange ao universo feminino. Quase não encontramos espaço para palavras como culpa, medos e tristeza, quando se é mãe recente.
Esse período de 45 a 60 dias, às vezes dura um pouco mais ou um pouco menos. É um ciclo no qual as mudanças causadas pela gravidez são restituídas. Todas estas transformações não se limitam às funções fisiológicas e hormonais. Também afetam o emocional, e essas questões são ainda mais relevantes e, na grande maioria das vezes, é aí que somos testadas.
Nesse período de transição vários sentimentos surgem. Existe um confronto interno real de expectativas construídas durante a gestação e a realidade trazida pela chegada do bebê.
Nesse contexto, a contemporaneidade e os vários papéis da mulher na sociedade vêm intensificar as ansiedades do puerpério: como equilibrar todos os pratos? Como lidar com a visão da perda de autonomia que a mulher tende a vivenciar neste momento? Emerge a preocupação sobre não conseguir se realizar como mulher, profissional, ser uma boa mãe ou esposa.
A mulher contemporânea, que cultiva interesses diversos e possui uma vida intensamente movimentada, tem sim dificuldades nesse momento em lidar com tensões que vão desde preocupações com o futuro, rearranjos financeiros, alteração drástica de rotina e questões profissionais. O fato de dividir-se entre vários mundos vem acompanhado de conflitos e de interrogações, de uma busca de conciliação, que é frequentemente fonte de culpa.
Precisamos discutir mais sobre esse assunto!
Precisamos incluir nos cuidados às gestantes e recém-mães, cuidados emocionais!
A expectativa sobre humana que a maternidade carrega com ela precisa ser trabalhada e discutida exaustivamente. Essa expectativa, aliada à vida perfeita do outro, gera a idealização, seguida pela culpa e pelo silêncio.
Eu trouxe esse tema à baila depois de observar várias mães passando por esse momento em minhas redes sociais. Vejo semelhanças em suas postagens… Mas vejo pouca interação. A contemporaneidade traz em sua esteira vários vieses positivos. Traz apoio, traz informação. Traz, muitas vezes consigo, a figura paterna atuante. Precisamos fazer mais uso dessas possibilidades!
O puerpério é um período difícil, mas necessário. É nesse momento, ao meu ver, que a mãe de fato emerge. Que ela abandona momentaneamente todos os demais papéis sociais e suas interações e assume a maternidade plena. Surge daí uma mulher diferente, mais forte, mais completa. É momento de evolução, mas não precisa ser momento de dor. Que nós, mulheres, possamos ser cada vez mais solidárias. Vamos conversar, vamos ser rede de apoio!
Cerque-se ainda mais de amor, mãe. Não tenha medo de falar, de pedir ajuda, de pedir um momento para si. Não sinta culpa. Jamais! Você está fazendo o seu melhor, e o seu melhor é o que sua família precisa.
Te digo, vai passar.
Crédito da foto: banco de imagem