No fim do ano passado ocorreu um zum zum zum sobre a lei 13.438, que obriga que testes sejam realizados em crianças até 18 meses para detecção do autismo. Fui pesquisar e a lei, na verdade, é mais abrangente:
- Parágrafo 5º – “É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico”. (NR)
O autismo não é um transtorno de diagnóstico fácil. Aliás, sempre quando falo que o João é autista, a primeira pergunta que escuto é: como você descobriu?
A minha queixa inicial, para uma pessoa “leiga” como eu era no assunto, não seria associada ao autismo, uma vez que o João, com 18 meses, não aceitava nenhum alimento sólido duro (como biscoito de polvilho, pão, pão de queijo, etc). Tinha acabado de voltar de uma temporada de mais de um mês no exterior e essa questão de alimentação me incomodou tanto, que a primeira coisa que fiz quando voltei foi procurar uma ajuda mais específica.
Marquei uma consulta com uma fono conhecida minha e um retorno à pediatra dele. A fono me disse que ele estava com um atraso na coordenação motora no geral e atraso na fala (isso não me preocupava), mas que precisaria avaliar um pouco mais. A pediatra dele me sugeriu procurar um neuropediatra e assim o fiz.
Marquei uma consulta em um primeiro momento e o primeiro profissional que fomos me sugeriu fazer uma ressonância, para investigar se haviam questões neurológicas. Confesso que optei por não fazer o exame por considerar algo muito invasivo para uma criança tão pequena (seria necessário sedação e uso de contraste).
Em paralelo a isso, comentei com uma amiga que tinha uma amiga com um filho autista (que foi um anjo na minha vida). Ela me mandou uma lista de vários “sinais” e vi que o João se encaixava em vários deles. Levei o João ao neuropediatra que ela me indicou e ele me deu sim a possibilidade do autismo (o diagnóstico não é fechado antes dos 5 anos de idade). Por coincidência, pouco tempo depois, nos encontramos na festa dessa amiga em comum e ela conheceu o João e me indicou que ele fosse avaliado no LEAD, que é um departamento dentro da faculdade de psicilogia da UFMG que atende casos de autismo e, mais uma vez, o diagnóstico foi positivo.
A partir daí começa uma maratona: de atendimentos com fono, TO (terapia ocupacional) e psicólogos (vou falar especificamente desses atendimentos mais pra frente). E, na verdade, eu pelo menos não tive muito tempo para ficar lamentando e remoendo. Claro que no começo é um pouco assustador, mas como diz o ditado, resolvi fazer do limão uma limonada e tocar o barco.
Já está comprovado que quanto antes as intervenções começarem, maiores são as chances de um bom prognóstico no tratamento graças à plasticidade cerebral (capacidade que o cérebro tem de mudar e se adaptar, modificando a sua estrutura e funcionalidade em resposta aos estímulos do ambiente). Essa plasticidade está a pleno vapor até os 5 anos de idade. Por este motivo, o diagnóstico precoce se torna tão importante e, voltando lá ao começo do texto, por isso essa lei é tão importante.
Porém, na minha opinião pessoal, mesmo com testes, a experiência e o olhar do pediatra que acompanha a criança continuam sendo fundamentais, como foi no meu caso. Se não fosse a obervação e a escuta da nossa pediatra, dos meus relatos, além do meu olhar atento, talvez eu tivesse demorado um pouco mais para descobrir o autismo, por isso a importância da lei a qual me referi lá no começo. Infelizmente, são muitos os casos em que os pediatras não detectam nenhum sinal e o prognóstico fica prejudicado.
Estamos completando dois anos de intervenções. E a questão da alimentação ainda persiste (e continua me incomodando), porém houveram outros avanços significativos.
O caminho ainda é longo mas tenho a certeza de que a pediatra foi fundamental. No entanto, acredito que nada substitui o olhar da mãe. Lá no fundo a gente sempre sabe. Então, quando você suspeitar de algo, comente com a pediatra, insista e, se preciso, vá atrás de uma segunda opinião. Nesse caso (e em vários outros) é melhor pecar pelo excesso do que pela falta.