The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia) – 2017
Ainda estou tentando encontrar uma palavra para exemplificar o que é este seriado. Pensei em várias, mas infelizmente, todas me remetem a sentimentos ruins. Repulsa, medo, pavor, horror, indignação e, principalmente, revolta. Não é um seriado de terror e nem de suspense. É um drama. Mas não é um drama qualquer. É sobre o passado, o presente e o futuro. O passado que insiste em voltar, o presente que está na nossa cara e que fingimos não ver e o futuro, não muito distante, que carrega consigo um mar de incertezas. Mas uma coisa é certa: você nunca mais será a mesma (eu disse: MESMA) depois de assistir The Handmaid’s Tale – O Conto da Aia.
Em um território antes pertencente aos Estados Unidos e agora denominado como República de Gileade, mulheres são retiradas de suas famílias e usadas como barriga de aluguel contra a sua própria vontade. Chamadas de “Aia”, elas são fecundadas por meio de um estupro, realizando assim o seu único propósito: gerar filhos de seus “donos” e suas esposas inférteis.
Tratadas como escravas do sistema, elas não podem namorar, trabalhar, estudar, ter sua própria religião. São totalmente subjulgadas e vigiadas a todo tempo. Não podem falar e nem fazer o que sentem vontade, caso contrário, são executadas ou enviadas para colônias. Seus nomes de batismo são substituídos pelo nome de seus proprietários homens, fazendo com que percam, assim, a sua própria identidade.
Baseado no romance de 1985 da canadense Margaret Atwood, The Handmaids Tale, é um seriado estadunidense, que estreou em 26 de abril de 2017, e conta com duas temporadas já exibidas. A terceira temporada está prevista para junho de 2019, totalizando 13 episódios.
Ganhador de dois Golden Globes 2018 (Melhor série dramática e Melhor atriz em série dramática para Elisabeth Moss) e três Critics’s Choice Television Awars 2018 (Melhor série dramática, Melhor atriz em série dramática para Elizabeth Moss e Melhor atriz coadjuvante em televisão para Ann Dowd), o seriado é uma produção da plataforma de streaming Hulu, concorrente da Netflix, disponível somente nos Estados Unidos e Japão. No Brasil, a série estreou sua primeira temporada em 11 de março de 2018, pela Paramount Channel, e agora, neste mês, pelo Globoplay.
Apesar de The Handmaid’s Tale tratar de um futuro próximo, a sensação é que estamos sendo transportados para um passado quase esquecido. Começando pelo figurino, pelas falas e o clima sombrio de uma guerra civil ainda em andamento. Mas o que mais choca é o tratamento dado às mulheres. Falas do tipo: “Somos reprodutoras, não precisamos de olhos” ou “a culpa é dela”, remetem a um passado que queremos esquecer. Pior ainda saber que são falas ditas por mulheres para mulheres.
Mas, sabemos afinal, que este passado continua vívido nos dias atuais. Quando uma mulher é culpada pelo seu próprio estupro por causa de suas roupas; mulheres recebendo salários mais baixos exercendo os mesmos cargos que homens; mulheres que deixam de ser contratadas por serem mães. É isso mesmo. Estamos vivendo isso nos dias de hoje.
É certo que algo já foi conquistado: Direito de estudar, direito de votar, direito de pertencer a si mesma, direitos reprodutivos e direito à vida. Mas ainda falta muito.
Temos o direito de estudar, mas eu tenho a liberdade de escolher a minha área de atuação sem me preocupar com o mercado de trabalho, pelo simples fato de ser mulher? Temos o direito de votar, mas eu possuo a representatividade necessária no Legislativo, no Judiciário e no executivo? Temos o direito de pertencer a nós mesmas, mas eu posso andar pela rua, sozinha, em qualquer horário, sem correr o risco de ser estuprada? Temos o direito a decidir se queremos ter filhos ou não, mas, depois de grávida, eu tenho o direito de interromper uma gravidez indesejada? Temos o direito à vida, mas quem me garante que ele não vai me matar quando bem decidir?
Você também não sabe a resposta? Tatiane Spitzner, Daniela Alves, Aliny Mendes e tantas outras também não sabiam. Mesmo sem ter resposta para todas estas perguntas, assista The Handmaid’s Tale – O conto da Aia. Se você ficar, no mínimo constrangida, eu tenho uma coisa pra te dizer: você é feminista sim. Bem-vinda ao clube!
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