Sobre conflitos entre irmãos e a enorme oportunidade de lhes ensinar uma habilidade básica de segurança emocional e física

            Os berros ecoavam lá dentro e voltavam. A emoção vinha como um tsunami. A vontade de entrar no clima e seguir a vibe dos berros era quase incontrolável!
            Era período de férias, e não só de passeios vivemos este momento. Gritaria acontecendo lá no quarto deles e eu com os outros dois irmãos na sala, mentalizando positivamente que eles dariam conta de se entender. É preciso deixar que eles construam a relação deles e encontrem juntos soluções!
            Não demora muito e um deles chega correndo e gritando: “Para! Para!  Paaaaaaaaaara!” e, aos prantos e berros, completa: “Mamãe, ele quer pegar meu beyblade. Me ajuda!”. E em menos de cinco segundos chega o irmão atrás gritando e nervoso: “Mamãe, você já disse que temos que aprender a dividir os brinquedos e ele não está respeitando o combinado!”.
            Era só mais uma das várias brigas que acontecem rotineiramente na vida natural e saudável de uma família! Mas exatamente neste dia, não seria  apenas uma intervenção necessária. Neste dia, o “para!” soou diferente… Doeu diferente… Foi lá dentro e mexeu comigo. Foi lá dentro e chacoalhou um “PARA” que um dia, quando menor, eu não consegui impor.
            Vi que ali eu precisava plantar uma semente necessária, que até então nunca havia sido plantada neles daquela forma. Não era sobre não gritar, não era sobre dividir. Neste dia o buraco era mais embaixo. Era sobre minha criança ferida, que precisava passar para eles um conceito básico e não tão claro na sociedade, para a segurança física e emocional deles. E a conversa teve início.
            “Tudo bem quererem o mesmo brinquedo, tudo bem desentender por não conseguirem controlar ainda sua emoções… Estamos construindo um processo juntos e vejo muita evolução em todos aqui! Vamos dando um passo a cada dia. Mas não está tudo bem não respeitar um pedido de “para”. O “para” não é negociável, não é parte de um combinado. Nunca será! Eu quero muito que lembrem-se sempre desta conversa que estamos tendo aqui, agora, para o resto da vida! Entendam uma coisa: limite é algo que respeitamos! O “não” e o “para” que vocês dizem, devem ter o mesmo peso do que quando vocês escutam o outro dizer. Nunca aceite ninguém te deixar desconfortável com um pedido deste. E a partir de hoje, juntos construiremos isso”.
            E assim, todo momento que faz-se necessário, nos falamos uns aos outros. Às vezes, até mesmo sem completar a frase, ou numa troca de olhares, onde quer que estejamos. Seja numa cócegas que já não está tão legal mais, seja naquele almoço que a criança já está satisfeita e não quer mais, seja na brincadeira que já se excedeu e virou quase um grito de guerra.
            Construir uma relação leal, com firmeza e gentileza, colaboração e ensinando habilidades de vida é um caminho possível. Construir uma relação respeitosa com nossos filhos, nos levam a destruir crenças limitantes, revisitar rotineiramente nossa criança ferida com lembranças que nem imaginávamos existir. Conexão, exemplo e encorajamento são itens importantes dessa mistura!
            Acredite, somos capazes de construir aquele mundo com mais amor, empatia e respeito, que tanto cobramos do outro, dentro da nossa própria casa.
Créditos da foto: Polyana Campos

 

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