Por Luana Drummond (@maedeucp)

Me lembro de quando eu era adolescente e uma amiga estava com problemas no útero (não me recordo o que era) e ela me disse que talvez fosse necessário retirá-lo. Na hora pensei: se fosse comigo eu iria engravidar hoje, porque depois não poderia ter meu filho. Eu tinha 15 anos. Eu já sonhava em ser mãe. Alguns anos mais tarde, vendo a Cissa Guimarães dar uma entrevista, após a morte de seu filho, me emocionei e pensei o quão forte era aquela mulher que perdeu um filho e estava ali, porque eu teria morrido junto com ele.

Quatro anos depois me vejo grávida e feliz. No dia que tirei uma foto e postei falando que faltavam dez semanas para o Rafael chegar, senti uma dor e nesse dia descobri que meu líquido estava diminuindo. Cinco dias depois ele nasceu, em 5 de dezembro de 2014.

Rafael foi diagnosticado com rins policísticos do tipo recessivo, uma doença genética. Descobrimos que eu e meu marido temos o gene que causa essa doença. As chances de um casal sem nenhum grau de parentesco ter a mesma mutação genética é baixa, mas fomos “premiados”. Como é recessivo, nós não temos doença, apenas a carga genética.

Rafael viveu 4 meses na UTI Neonatal. Foram meses difíceis, de muita luta, mas de um amor intenso, eu tinha que amá-lo tudo o que eu poderia naqueles dias, pois não sabia o dia de amanhã. Então, dia 7 de abril, ele partiu. E eu me vi forte… Como a Cissa naquela entrevista, como minha sogra, como outras tantas mulheres que passaram pela mesma dor que eu.

Agora eu já sabia o que tínhamos e os nossos riscos. As chances de ter outro filho com a mesma doença eram de 25%. E eu quis tentar de novo porque a fé que foi construída naqueles quatro meses dentro da UTI me dizia que tudo daria certo. Tínhamos 75% de chance de ter um filho saudável. E eu acreditei, confiei e engravidei. Dessa vez de uma menina. Meu mundo sempre foi cor de rosa e eu sempre quis ele assim, tanto é que desde pequena dizia: vou ser mãe de menina. Minha menina já teve vários nomes: Patrícia, Priscila, Jéssica, Júlia… Enfim chegou Maria Júlia.

Maria Júlia pintou novamente meu mundo de rosa. De onça, de brilho, de pérolas… Encheu tudo de laço – e quanto laço tinha Maju. Mas na gestação descobrimos que a Maju também tinha rins policísticos. E eu briguei feio com Deus porque eu tinha acreditado, tinha tido fé, tinha pedido muito, mas, ainda na gestação, fizemos as pazes pois só Ele poderia fazer o milagre que precisávamos. Ahhhh minha Maju, tão minha que dependia de mim para continuar a vida! E 9 meses depois, no dia 19 de outubro de 2016, nascia e partia minha menina. Maria Júlia viveu apenas três horas. Por duas vezes eu experimentei a maior dor do mundo.

De lá pra cá já se passaram dois anos. Dois anos de dor, de recomeço, de reconstrução daquela fé linda de 2015. Há um ano e meio começou nossa nova batalha, nossa luta por um bebê arco-íris saudável. Graças à medicina poderíamos fazer fertilização in vitro com seleção embrionária. Na época do Rafael já sabia dessa opção, mas os embriões doentes são descartados e eu pensava que jamais descartaria o meu Rafinha. Agora, tive que mudar meu pensamento para realizar meu sonho de ser mãe, então pensava que os embriões descartados não conseguiriam viver de toda forma, então eu estaria poupando-os de tanto sofrimento.

O tratamento não é fácil psicologicamente falando: injeções, medos, médicos e mais médicos… Dos dez embriões que tivemos, só quatro eram saudáveis e isso foi uma tristeza para mim. Tive dificuldades para preparar meu endométrio (logo eu que nunca tive dificuldade para engravidar). Quando enfim deu tudo certo, não engravidei do embrião que coloquei.

Recomeçamos o preparo e fizemos nova transferência e o nosso tão sonhado positivo chegou! Nossa Maria Laura estava a caminho para colorir nossa vida com todas as cores do arco-íris, vinha depois de longo período de tempestade. A Maria Laura veio provar que sonhos se realizam mesmo quando parecem impossíveis. E o meu sonho se tornou realidade no dia 13 de dezembro de 2018.

Nem sei expressar o que senti no dia que saí da maternidade com minha filha nos braços, sim, é verdade, Maria Laura é saudável. Estou vivendo a maternidade com todas suas flores e neblinas, com todo seu amor e sua dor. E eu só tenho que agradecer a Deus por isso. Agradecer a Deus pela oportunidade que tive com meus filhos que vieram me ajudar a evoluir e a oportunidade de agora, enfim, viver tudo isso!

             

Fotos: arquivo pessoal e Sheyla Pinheiro Fotografias.

8 Comentários

  1. Linda história. Parabéns! Tb tenho 2 bebês arco íris. E vivo a maternidade com toda a sua beleza e do, como vc disse. Tudo de mais lindo pra vcs e Maria Laura. Eles colorem mesmo as nossas vidas. Viva a fé!

  2. Que linda história de amor de fé do cuidado de Deus em te lapidar.
    Que Maria Laura seja um anjo a encher de vida a vida de vocês. Que ela seja uma mulher tão forte assim como você. Bjos

  3. Tô aos prantos e só posso dizer: que força e que exemplo. Parabéns pela sua história!
    Deus é maravilhoso e prepara tudo direitinho, mesmo que doloroso seja o caminho.
    Que Deus abençoe sua família imensamente!

  4. Que história maravilhosa de muita fé! Parabéns a família linda!!! E a essa mãe de uma princesa e dois anjos ????????

  5. Que lindo relato, chorei de emoção!!! Sei que o Rafinha e a AnaJu tiveram um propósito em sua vida . Aproveite a vida é tenha muitas alegrias. Sua fé foi testada????, e você provou ser uma mulher de muita fé ! Deus abraçoe sua família

  6. Aí meu Deus, acompanhei cada detalhe dos últimos 4 anos de perto e imagina como estou agora? Lendo e chorando horrores de emoção, de alegria!!!

  7. Emocionante….estou aqui em lágrimas após este lindíssimo depoimento de dor… de fé e de muita alegria!
    Desejo que esta luta que venceu seja inspiradora para todos os momentos… um exemplo!
    Felicidades e Deus abençoe ????????

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